Are you sure you want to live like common people,
Common People, Pulp
Different Class, 1995
Ver o canal público venezuelano de televisão (Venezolana de Televisión) é um privilégio que na Argentina é possível (adenda: descobri que em Portugal também, via net - ver aqui). A Venezuela em campanha eleitoral oferece a melhor TV e o melhor entertainer do mundo. Perdão, a Republica Boliviana da Venezuela. Percam uns minutos por lá- estou certo que vão ser brindados com algo nunca visto. Verdadeiramente hilariante.
Ditaduras militares no Brasil (o regime que se dedicava a torturar opositores e a desenhar cidades) e Argentina (lançar pessoas ar mar desde avião era o hobby) entre os anos 60’ e 80’. Pinochet no Chile (ditador com diversos passatempos - desmantelar os comboios no país, muito perigosos para o regime, o mais divertido), Fidel em Cuba (este ainda brinca); agora também Morales na Bolívia (o amigo dos produtores “tradicionais” de coca), Daniel Ortega na Nicarágua (futuro-ex-sandinista) e - o de mais divertido de todos - Chavez na Venezuela (apresentador de TV). Pobre América Latina onde ditadores e populistas teimam em governar.
A edição desta semana da revista brasileira Veja (infelizmente, artigo indisponível para não assinantes) faz um retrato tão lúcido quanto triste de “como o populismo está a apagar a América Latina do mapa”. Mostra como a Ásia tem ganho e a América Latina tem perdido, graças ao populismo e a más políticas económicas. Descreve uma manifestação recente em Lima, Peru, “contra a tecnologia e o investimento estrangeiro”. A revista intitula o artigo de “A nova Africa?”*.
* Na verdade já existe um país “africano” na América Latina - chama-se Haiti.
P. diz-me que ainda hoje há muita gente a adorar os Peron. Há poucos meses houve mesmo porrada forte entre funcionários de sindicatos para escolher quem iria participar na transladação do corpo de Peron. Principalmente, adoram Evita - a mulher do presidente, que, defendem muitos, tinha o verdadeiro poder e comandava o país.
Pergunto porquê - afinal, hoje sabe-se que Eva Peron teve das maiores colecções de jóias e ouro do mundo. P. refere-me que ela tinha algo de especial, era populista pois claro, mas o povo identificava-se com ela: era a pobre que ascendeu socialmente, uma espécie de esperança da nação. Além disso, Evita era a amiga, distribuía em mão dinheiro às pessoas que diariamente formavam filas à porta do palácio. P. lembra-se de quando, em criança, como italiano recém imigrado na Argentina, recebeu em casa um cabaz com produtos de Natal e presentes – acompanhado de um cartão com um “Bienvenido a Argentina. Eva Peron”.
Hoje o peronismo continua. Há muitos políticos que o seguem e diz-se mesmo que o actual presidente é um peronista, ainda que não assumido. No centro de Buenos Aires, frente ao edifício do congresso, encontro uma concentração de um grupo da “juventud peronista”. São poucos, não mais de 30. Tento perceber quem realmente são, o que pensam e principalmente que fazem ali com t-shirts e bandeiras com o rosto de Eva e com a inscrição "Evita Capital" - que querem afinal? Os cigarros servem para iniciar a conversa, mas rapidamente eles preferem falar do estranho de eu não ser brasileiro.
Av. 9 Julio, Buenos Aires, 2006.
Uma manifestação ofereceu-me uma coisa única: ter a grande avenida 9 Julio, centro cultural e económico de Buenos Aires, sem automóveis por uns minutos. Esta avenida, que dizem por cá ser a mais larga do mundo, tem uma estrutura transversal de passeio + 3 faixas Sul Norte + jardim + 7 faixas Sul Norte + 7 faixas Norte Sul + jardim + 3 faixas Norte Sul + passeio. A dado momento, surge um prédio de habitação bem do meio das faixas de rodagem. Cabe e nem perturba muito.
R. garante-me que a Argentina é mais interessante que o Chile porque as argentinas são muito mais interessantes que as chilenas. Pelo menos em parte dou-lhe toda a razão.
P., italiano, diz-me que o povo argentino basicamente são italianos que gostavam de ser franceses mas que se portam como os ingleses quando saem à noite.
“São como nós!”, remata. “Como nós??”, fico a pensar.
Atravessa de norte a sul a Argentina, 4700 km entre Abra Pampa e Rio Gallegos. Do norte deserto à Patagónia e ao gelo, sempre paralela à cordilheira dos Andes. Assume diversas tipologias, de auto-estrada a caminho “en suelo natural”. Vai desde quase o nível do mar, perto de grandes lagos, até cerca de 5000 m. de altitude. Serve também o povo chileno quando este pretende deslocar-se ao sul da Patagónia chilena (não há estradas em diversos territórios no sul do Chile, obrigando-o a atravessar a fronteira para o lado Argentino).
Fiz a Ruta 40 em cerca de 150 km – à minha direita, sempre os Andes e a neve; à minha esquerda, a imensa planura semi-desertica argentina. É a estrada mais bonita do mundo. Não estou a exagerar.
Andes, Fronteira Chile- Argentina, 2006.
Senado Chileno. Valparaiso, Chile, 2006.
F. refere-me que aquele edifício de arquitectura moderna e sobredimensionada para o local é o actual senado chileno. Pinochet transferiu o senado nos anos 80’ para Valparaiso – “ali, fora de Santiago, os senadores não incomodavam tanto”.
O edifício tem a forma geométrica de um A. De Augusto.
Em Viña del Mar, Chile, o rio no Verão corre seco. Tão seco, que bastam uns 3 metros junto à margem direita para toda a água se deslocar para o Pacifico. O restante leito do rio é aproveitado pelos automobilistas que por ali circulam e estacionam. O piso é obviamente em terra e areia. Mas não faltam lá os sinais de trânsito.
Valparaiso, Chile, 2006.
Parece o nome de uma qualquer boys band , mas é a razão porque o meu telemóvel não funciona. (já agora, desculpem se eu não responder a sms e essas coisas - o tlm não me obedece).
Acordar junto ao Atlântico, frente ao magnifico rio della plata - sim, esse que da o nome ao mítico River Plate. Do outro, estava então o Uruguai. Agora, frente aos meus olhos vejo a chegado de grandes navios e o oceano Pacifico. Pelo meio, sobrevoar os Andes e perceber porque os espanhóis nunca os conseguiram atravessar - colonizar sim mas pelo norte, contornando-os. A Geografia importa.
Porto - Lisboa - Rio de Janeiro - Buenos Aires. Depois, Buenos Aires - Santiago do Chile. Sempre pelo ar. Tenho a certeza que isto dantes era bem mais fácil.
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