Quando ouvi a noticia pela primeira vez ainda pensei que a culpa fosse do regadio que o Alqueva agora permite - seria muito desagradável ver o milho, tão dourado e perfeito, desatar a rebentar como pipocas pela lentidão do escoamento naquele Alentejo tão quente e longínquo. Seria desagradável e poderia causar um certo alarme na população: “Vêm aí os espanhóis, fujam!”.
Afinal nada tem a ver com o regadio. No entanto, as notícias deste fim-de-semana não enganam: Beja vai mesmo ter um aeroporto (não confundir com aviões). O governo prometeu, está prometido, e as obras arrancam já no próximo mês, que se faz tarde. Ora vamos então inaugurar um aeroporto na planície. Vamos mostrar uma vez mais a nossa capacidade empreendedora. Junte-se a fanfarra que a inauguração está breve. É agora que o Alentejo avança. Se sequeiro falhou (ai Salazar!), Sines não chegou (ai Perroux!) e o Alqueva construiu-se porra (ao que parece, faltam ainda uns tubos), agora, para terminar, bonito, bonito era mesmo um aeroporto (caiado?).
E para quê este aeroporto? Melhor, para quem? Para Lisboa? - não parece, está a quase 200 km de distância. Para o Algarve? - nada disso, há Faro. Será então para a população de Beja, cidade que nem chega aos 25 mil habitantes?
Se nenhuma das questões anteriores o convenceu especialmente, pense então no turismo. Sim, nós temos o turismo, que precisa deste aeroporto, que precisa do turismo. Então porque não construir um aeroporto em Beja se há o turismo - não há razões para que não se faça. E esta ideia do aeroporto vem mesmo a calhar agora que por terras do Alqueva se encontrou uma praia paradisíaca ("com palmeiras e tudo", referiu entusiasmado o presidente da Junta da Luz), duas pirâmides do Egipto (em bom estado) e, para alegria do professor Hermano Saraiva (“eu já tinha alertado para esta possibilidade”, disse), os jardins suspensos da Babilónia afinal estão de boa saúde e são nossos.
Agora é só esperar pelos aviões na planície. Dia e noite, Verão e Inverno, centenas, milhares de aviões, aviões grandes e carregados de turistas, muitos turistas, avós, pais e filhos, de tudo e de todo o lado, mas tudo gente rica, não tesos e alcoólicos como os do Algarve, gente limpa, que toma dois banhos por dia, gente que vale a pena e que vai dar tanto dinheiro, tanto dinheiro à região que os alentejanos vão até poder trocar de carro a cada seis meses. Só espero que com tanto tráfego não surjam acidentes de maior.
Depois da Providência cautelar, o Habeas corpus.
(pelo nome, acho que esta matéria vai exigir um pouco mais de dedicação e estudo da minha parte).
Era tão ecologista tão ecologista que chamava à sogra aquecimento global.
Viganella é uma aldeia situada nos Alpes italianos, junto à fronteira Suiça, onde o sol não toca directamente durante três meses pelo Inverno.
Vai daí, o município decidiu criar o Progetto Specchio.
Ainda não fica Verão, mas…
(Toda a estória aqui).
Se informa que nas Terras de Vera Cruz está a fazer-se da melhor prosa que a língua de Camões actualmente conhece. Por brasileiros e portugueses.
...e à borlix (em parte).
Novo albúm dos Clap Your Hands Say Yeah (Some Loud Thunder). Um cheirinho aqui,
O novo projecto de Damon Albarn – The Good the Bad and the Queen, acompanhado por ex-membros dos The Clash, dos The Verve e, na bateria, nada mais nada menos do que Tony “Afrobeat” Allen himself. Pode ouvir-se a totalidade do álbum na página no my space do projecto.
E, finalmente, o regresso dos Arcade Fire. Provem aqui o veneno.
Faz hoje 60 anos que este alienígena aterrou no planeta Terra.
There's a starman waiting in the sky
He'd like to come and meet us
But he thinks he'd blow our minds
There's a starman waiting in the sky
He's told us not to blow it
Cause he knows it's all worthwhile
He told me:
Let the children lose it
Let the children use it
Let all the children boogie
Starman, David Bowie
Itália não quer o rótulo de favorita.
Paul McCartney não quer dar dinheiro à ex-mulher.
Casais do Douro não quer pertencer ao Concelho de S. João da Pesqueira.
Vaticano não quer bispo paraguaio candidato à presidência.
Ivanovic não quer ser igual a Sharapova e diz que tenistas são invejosas.
Transbrasil não quer devolver hangar em Congonhas.
Este governo não quer teorizar, quer protagonizar a mudança.
A gente não quer só comida.
Pepe não quer representar o Brasil.
Benfica não quer Filipe Teixeira.
Marcão não quer voltar ao Flu.
Cassano não quer ir Milan.
Fogão não quer jogadores do Galo.
Xena não quer Xexo.
Direcção não quer Nuno Melo.
O vírus da gripe aviária não quer necessariamente matar a humanidade.
Aqui vai uma lista de coisas de que gostei em 2006.
Um super 2007 para todos!
Musicol
Return to cookie mountain, TV On The Radio
A prova de que quando os negros pegam em guitarras partem tudo. Sublime. Pode-se levar para as festas e dançar.
(obrigatório também recuar a 2005 para ouvir o trabalho Desperate youth, blood thirsty babes.)
Rather ripped, Sonic Youth
Um Sonic Youth para quem ainda considera o Goo uma das sete maravilhas do mundo.
Drum’s not dead, Liars
Mais um álbum inqualificável destes tipos (só para quem já perdeu o juízo por completo).
Clap your hands say yeah, Clap Your Hands Say Yeah
Ou como se pode criar uma grande banda "made in internet". Os CYHSY têm musicas para download grátis no site e no myspace. Para aquelas bandas sempre zangadas com o mundo: aprendam!
(escutem coisas como Is this home on ice, Heavy metal e Gimme some salt e digam lá se este não é o melhor albúm de 2006).
Os M83 criam um som que junta distorções de guitarras com a mais bela electrónica; por vezes, misturam-se vozes angelicais - arrepiante e belo. Transportam-nos para paisagens frias e desconhecidas, bem próximas das geografias dos Spiritualized (Ladies and gentleman we are floating in space) e dos Godspeed. Acho que é a isto que se chama pós-rock. Tão bons que nem parecem franceses.
(na verdade, este trabalho já vem de 2005, mas só o ouvi e foi minha companhia em 2006)
Filmes
Match Point, Woody Allen
O melhor de 2006 chegou logo nos primeiros meses. Simplesmente genial!
(e tem a Scarlett Johansson!)
Uma História de Violência, David Cronenberg
À semelhança do que havia feito há uns anos David Lynch com The Staight Story/ Uma história simples, desta vez Cronenberg opta por prescindir de dar um nó na cabeça dos espectadores. Continua, no entanto, a filmar com a intensidade habitual e a criar personagens densas e imprevisíveis. O tema é uma vez mais a violência. Simples e brutal (as i like).
Infiltrado, Spike Lee
O que dizer: é um filme do Skipe Lee. Obrigatório.
Colisão, Paul Haggis
Um filme sobre o (des) conhecimento entre pessoas ou como o vencedor do Oscar para o melhor filme pode ser um grande filme.
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