As notícias de que o próximo rali Dakar (o que significará “Dakar”?) poderá emigrar para a América do Sul não são nada boas. Aquele território não é para Paris-Dakares ou Lisboas-Dakares ou lá como raio aquilo se chama. Aquele território não é para os betinhos brincarem a aventureiros nos seus jeeps trezentos cavalos. E nos camiões. Nem para todo aquele circo. Principalmente, o espaço que se fala – a fronteira entre Argentina e Chile - porque lá é o território sagrado da Ruta 40, que segue sempre entre a cordilheira dos Andes e o deserto argentino, onde há rectas de 50 km e poços de petróleo e cidades em oásis. Afastam-se dos rios que se criam do degelo dos Andes e descem abruptamente até à planície seca argentina e aí tornam as terras férteis (bom vinho) e habitáveis (Mendoza, San Rafael). Afastem todo esse ruído desse território porque não é vosso. Esse território pertence aos vaqueiros da Patagónia. Pertence aos chilenos e argentinos que diariamente atravessam a fronteira no expresso El Rápido, que só pára bem lá no topo dos Andes, perto dos três mil metros, onde é passado a pente fino pela polícia fiscal, enquanto os passageiros aproveitam para comer uma quente sandes de lomo e panchos. Aquele território pertence aos camionistas que diariamente atravessam a fronteira, serpenteando naquelas vias geladas e sem protecções. Pertence ao escritor austríaco que lá conheci e que por lá vive porque não gosta da Europa (que estará a escrever?). Pertence aos trabalhadores que escavam um interminável túnel entre a região de Mendoza e o Chile, para assim se poder fugir à neve e se colocar o vinho de Mendoza nos portos do Pacífico. Aquilo pertence às mulheres bonitas que correm pelo final da tarde no enorme parque de Mendoza, que a comunidade italiana ali criou quando chegou.
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